segunda-feira, 22 de julho de 2024

UMA VIDA PELA ARTE PELA PAZ II

 

NASCI PARA A ARTE

 

Feito este introito, quero dizer que desde as mais antigas lembranças da minha infância sertaneja, eu sentia que este mundo, somente fazia sentido no fazer artístico.

 

Lembro-me que ver e ouvir os poetas repentistas e os folheteiros a ler os cordéis seus e de outros autores, nas feiras, me impressionava tão profundamente, que muitas vezes fugia de casa em busca deste fruir perigoso, e muitas vezes tirava dinheiro do Caixa da Bodega para comprar Cordéis. No entanto, quando era descoberto recebia duro castigo. Sim, mas não desistia.

 

Outro divertimento compulsivo que tinha era ler Gibis, HQ – Histórias em Quadrinhos. O dono da Banca de Revista já sabia desta minha compulsão e mandava me chamar, quando chegava da sua viagem à cidade grande, de onde trazia Gibis de TEX Willer, FANTASMA – O Espírito que anda, Gavião Negro, Mandrake, Tio Patinhas, A turma da Monica, Zorro e tantos outros heróis que eu tanto adorava.

 

Eu tinha uma maletinha velha, que pertenceu ao meu irmão mais velho e quando ele foi descartá-la lhe pedi para colocar Cordéis, Gibis e meus brinquedinhos de criança sertaneja. Falo em Pião, Bolinhas de Gude(Bila), carrinho de carretel, etc.

 

Ao chegar na quarta série do ensino primário, fui visitar o Ginásio Diocesano Dom João da Mata, com meu irmão, pois este foi fazer a matrícula. Ele me deixou na Biblioteca e foi resolver suas coisas.

 

Foi a primeira vez que vi tanto livro na vida. A moça da livraria, que era amiga de todos nós, cidade pequena é assim, todos se conhecem, veio conversar comigo. E perguntou:

 

- Merlanio você gosta de livros?

 

- Não. Gosto de Gibi e de Cordel.

 

- Ah! Mas você precisa conhecer isto aqui.

 

E me mostrou a coleção de Monteiro Lobato. Toda ilustrada com desenhos lindos. Eu folheei admirado. Nunca tinha pego um livro tão novinho. Ninguém vinha pegar livros desses de crianças.

 

Ela me deixou folheando e saiu. Daqui a pouco chegou meu irmão e ela me perguntou:

 

- Você não quer levar para ler em casa, este livro de Monteiro Lobato?

 

Surpreso perguntei: E eu posso levar pra casa?

 

- Pode sim. Pois seu irmão é matriculado e pode emprestar seu nome para você. Agora tem que devolver na segunda-feira que vem.

 

E eu saí com o livro de Monteiro Lobato para ler.

 

Adorei! Porque vi que tinha muita coisa boa para conhecer a partir daquela Biblioteca.

 

E passei a semana inteira lendo e relendo aquele livro, com tantas personagens. Emília, Narizinho, Pedrinho, o Visconde de Sabugosa, Dona Benta...

Aquilo me encheu de alegria de tal forma que deixava de ir jogar bola para retornar à minha caverna mágica, ao lado da minha casa, por trás do canteiro de plantas medicinais de minha mãe.


(Continua...)

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