VIDA E MORTE DE UM POETA #2755
O Poeta ante este mundo
Por maior que seja a Obra
É por muitos olvidado
E nos ambientes sobra
Seu trabalho é deslembrado
E segue silenciado
Que incomoda sua fala
E até os seus camaradas
O aturam nas madrugadas
E ele vai só, mas não cala
Acostuma-se consigo
Sorve a solidão de pé
Que a poesia é seu abrigo
Sua crença e sua fé
Abre vinhos, se saúda
E escreve com voz aguda
Aponta a dor e a miséria
Ele é a lente da poesia
Que leva dor e elegia
Sobre a massa deletéria
Pinta com cores suaves
O amor e a esperança
Abraça quem vai caindo
Canta ao velho e a criança
Há quem finge não lhe vê
E o Vate consigo crê
No tom de luta da fala
E vai e segue na labuta
Que a verve tem força bruta
Não se entrega e nem se cala
Sua poesia é enredo
Que embeleza os cenários
Tinge com força a injustiça
E aponta os campanários
É um peregrino que faz
Desperto o mundo pra Paz
Leva em tudo os versos seus
Mas caminha solitário
Para além de solidário
Seu verso fala com Deus
Que o manda: Vai, encantado!
Canta teus versos sinceros
É no verso que converso
Canta Ágape, Philos e Eros
Abre o espírito fecundo
Dá voz ao Amor no mundo
Ignora a indiferença
E embriaga-te do teu canto
E canta teu canto santo
Que seja tua fé e crença!
Um dia de madrugada
Veste o manto da poesia
Abandona o corpo velho
No raiar de um novo dia
Nesse dia tem lamentos
E o choro dos desatentos
Dirá da vida completa
E cantarão e chorarão
E ali valorizarão
Quem seguia aqui no chão
No desvalor de Poeta
E enquanto o Sol descortina
E esquenta com seu clarão
Nas asas da poesia
Vai ele na imensidão
Um coro no Céu ecoa
E Deus que tudo abençoa
Ouve a voz e os cantos seus
E abre os Portais ao Poeta
Um artesão do verso, asceta,
Um Cantador e um Profeta
Que do Além dá seu Adeus!
(Merlanio)