segunda-feira, 22 de julho de 2024

UMA VIDA PELA ARTE PELA PAZ III

 (Continuação...)

PRIMEIRO POEMA

 

Continuando a minha Saga pelos caminhos da Arte.

 

A partir daquele dia, sempre ia a Biblioteca para pegar um livro para aquela semana.

 

Maria, a moça da Biblioteca já escolhia os livros infantis para minha leitura.

 

O Diretor do Ginásio Diocesano era o Padre José Sinfrônio de Assis. Muito amigo da minha mãe e tinha o respeito do meu pai. Tanto assim que o padre, foi padrinho de batismo do meu irmão mais novo, Makários.

 

E este padre, adotara seu sobrinho, da mesma minha idade, que era muito estudioso. E um certo dia, o padre levou seu sobrinho Eliézer para apresenta-lo a gente. Éramos seis irmãos, todos meninos.

 

O padre queria entrosar seu sobrinho conosco. E, de fato, ficamos grandes amigos, até a sua morte pela Pandemia de Covid-19.

 

Começamos a criar um vínculo forte de amizade e criamos um grupo de Teatro Turma da Mônica. Interpretando para nós mesmos nos espaços vazios do Ginário. Pois ali era a residência do padre e de Eliézer. Depois outras crianças de outras cidades, que desejavam estudar, foram ali morar, mas nossa amizade nunca diminuiu.

 

E líamos muito. Eliézer também adorava Gibis e a gente colecionava estes HQs que inspiravam nossa vida.

 

Foi Eliézer que descobriu que na Biblioteca tinha livros de poesia. E de cara fiquei apaixonado por Castro Alves e Olavo Bilac Decorávamos os poemas com muita rapidez, mas eu ainda não estudava no Ginásio. Somente no ano seguinte.

 

Um certo dia, na minha caverna mágica, inspirei-me em Olavo Bilac e fiz um poeminha de amor. Decassílabos com três estrofes e quatro verso. Falava de um amor que me tirava o fôlego. E eu tinha 9 anos.

 

Fiz e mostrei a minha mãe sob os olhos invejosos de dois irmãos que fizeram a maior zoação e eu escondo deles o resto do poema.

 

Mas o diabo está nas entrelinhas.

O meu pai era um homem genuinamente sertanejo. Brabo que só um carcará. Bruto que somente um rinoceronte chega perto e tinha uma adoração pelos poemas de Zé da Luz, cujos poemas matutos que revelavam tragédias, ele decorava, apesar de suas trinta estrofes. Era tanta a qualidade da sua declamação, que não raro os radialistas o convidavam para um mini-show de declamação nas rádios. Ao que meu pai, extremamente vaidoso adorava.

 

Mas em casa nos tratava como soldados de um quartel imaginário da sua cabeça dura. Ouso dizer que temíamos mais ao meu pai do que a própria morte! A morte não nos apavorara, ele sim.

 

Um dia, na hora do almoço, aquele meu irmão, sem ter nem pra quê, disse:

 

- Papai, Merlanio escreveu um poema dele mesmo.

 

- Foi? Merlanio, vá buscar que quero ler.

 

Foi a morte! Como mostrar o primeiro poema para  grande declamador e, além disso, pavor nosso de cada dia? Fui porque não podia dizer não, que ele não aceitava. Até para dizer uma negativa, como: Meu filho, está chovendo?

A gente respondia: Sim senhor. Não está chovendo não, sim senhor.

Tinha que dizer não entre dois sim senhor.

 

Entreguei o poeminha e ele leu. Fez ar de riso, mas somente o ar mesmo. E disse:

 

- Parabéns! Bonito poema. Mas um poema de amor, meu filho, você nem tem dez anos.

 

E rasgou meu primeiro poema!

 

Depois começou a almoçar e eu me tremendo entre ódio do meu irmão e pavor dele, com a alma revirando e o amor próprio destruído. Terminei meu prato e saí para minha caverninha.

 

Nunca mais eu escreverei uma linha, MALDITOS!

 

Minha mãe ainda tentou colar os pedaços do poema, mas o vento já tinha levado a maior parte dele e se perdeu na noite dos anos.


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