terça-feira, 22 de novembro de 2022

ADEUS ERASMO CARLOS

 


ADEUS ERASMO CARLOS

(Merlanio)


O Brasil se despediu

Do tremendo Tremendão

Que do beiço do caminho

Sobe aos Céus com emoção

Tão bom foi no seu fanal

Que a sua fama de mal

Não pegou no imenso ser

Sob os cachos dos cabelos

Seus atos foram tão belos

Preciso em saber viver


Sua alegria e ternura

Sua alma agigantada

Levaram o sublime amor

Na Arte desta jornada

Foi grande amigo do Rei

Poeta que imaginei

Viveu de amar com alma nobre

E a saudade se condensa

Segue a poesia extensa

De Erasmo alma rica e imensa

E o mundo fica mais pobre

(Merlanio)

terça-feira, 15 de novembro de 2022

JUDAS TRAÍDO

 


JUDAS TRAÍDO

Merlânio Maia

 

O poeta é porta voz

De quem já foi excluído

De quem não tem voz nem vez,

Injustiçado e vencido

Exatamente por isso

O poema é compromisso

De quem precisa falar

E como poeta o meu canto

Empresto e encho de encanto

Para a justiça reinar


Pois muito bem ainda ontem

Um homem me procurou

Aproximou-se de mim

E taciturno falou:

- Minha história é incompleta

Por isto busco um poeta

Com candeias e archotes

Para contar minha saga

Cheia de golpes de adaga

Sou Judas Iscariotes


Vim pedir-te voz e vez

Pra que toda humanidade

Saia da ignorância

Conheça toda a verdade

Escreva tudo em Cordel

Pra plebeu e bacharéu,

Saberem toda a razão

Da saga que me consome

Por isso é hoje o meu nome

Símbolo de traição!


Oh! Juízes dos juízes

Tiranos entre os tiranos

Olhai pra mim, vês o homem

Condenado em vossos planos

Que mais vês, de quem viveu,

Seguiu, amou, defendeu...

O seu Cristo até a morte?

E por sentir-se traído

Claramente incompreendido

Tentou dar o fim a sorte?!


Aqui me tendes senhores

Réu, julgado e condenado!...

Ante o júri religioso

E por vós qualificado

Ante vossa religião

Cujo Mestre é o do perdão

Que não condenou jamais

Mas por vós sou condenado

Todo ano martirizado

Sem espaço pra ter paz


Delinqüi sim, eu confesso,

Porém, não premeditei

E a minha história eu professo

Ao mundo inteiro que errei

Porque tomado de ânsia

Na cruel ignorância

Cri no Cristo firmemente

Conhecia o Seu poder

E via do céu descer

Toda glória onipotente


Eu nasci em Kerioth

Na Judéia tão divina

Cresci livre amando a vida

Sem saber da minha sina

Fui mercador desde novo

Mas o amor ao meu povo

Levou-me ao triste caminho

Da guerrilha desumana

Contra a invasão romana

Meu ódio foi meu espinho


Quantos romanos matei?

Perdi a conta dos pares

Mas quanto mais eu matava

Chegavam mais aos milhares

Cada batalha vencida

Os via ceifando a vida

Meus irmãos crucificados

E por mais que eu combatesse

Que as batalhas eu vencesse

Sempre estava derrotado


Até que num certo dia

Já quase a perder a fé

Numa mansa tarde eu via

O Mestre de Nazaré

Pregando um reino do Bem

Falava como alguém

Incendiado de amor

Com o seu poder sobre-humano

Trazia de Deus o plano

De Messias Salvador


Então veio à minha mente

Toda a crença do Messias

Libertador sem limites

E muito mais nEle havia

Curava os desgraçados

Amava os desesperados

Liberdade era sua vida

E o meu amor foi crescendo

Vi nEle o céu descendo

Salvando a raça escolhida


Então Ele docemente

Disse pra me aproximar

E foi conduzindo o grupo

Com um jeito manso de amar

Fez-me o convite pra vida

E em minha força incontida

Vi o quanto Ele era forte

Falando em libertação

Num reino só de irmão

Vencedor da própria morte


Vi seu amor pelo povo

Sofrido e injustiçado

Era o meu povo querido

Que eu queria libertado

Quantas vezes O ouvia

Dizer que os libertaria

Da garra tão desumana

E eu naquilo acreditava

Mas o mal que eu pensava

Era o da raça Romana


Ledo engano, meus senhores!

Era outro reino, no entanto,

E eu bem ali do seu lado

Sabendo o quanto era santo

Conhecia o seu valor

Tanta ternura e amor

Que tinha por todos nós

Ah! Jesus quanta saudade...

Da doçura e da amizade

Saída da Tua voz!


Quantas noites estreladas

O Mestre contava história...

Falava de um certo reino

Que não me sai da memória

Seu rosto transfigurava

E o tempo não mais passava!...

Era como se estancasse

Toda ampulheta vencida

E a Sua canção de vida

A brisa mansa levasse!...


Os doentes, os leprosos,

Chagados cheios de dor

Jogavam-se aos pés do Mestre

Pra receber seu amor

As mulheres maltrapilhas

Com seus filhos, suas filhas...

Vinham beijar sua mão

E assim a dor acabava

O próprio mar se acalmava

Para escutar seu sermão!


Acreditam que traí

Aquele que me deu vida

Que me deu toda a esperança

Quando eu já a tinha perdida?

Jamais traí meu Senhor

E é esta a enorme dor

Que dentro de mim emana

O meu ser está doído

Por ter sido, sim, traído,

Por tal condição humana


Não traí, eu fui traído!

Repetirei renitente

Sempre fui bravo soldado

Destemido, competente...

Sei que agora estou vencido

Por sentir que fui traído

Por ser fraco e ser humano

Pois ali nunca entendi

O que o Cristo fez ali

Qual era enfim o seu plano


E o meu plano era levar

Meu povo à libertação

Fazê-lo livre do jugo

Da águia da perdição

Vivi só na noite escura

Naquela minha loucura

Tinha uma crença vã

De que a qualquer momento

Libertaria o tormento

Nos entregando o amanhã


Bastava que Ele quisesse

E mil legiões de anjos

Rasgando os céus chegaria

Liderados por arcanjos

Cada um com seu decano

Banindo todo romano

Na mais divina das guerras

Doando ao povo escolhido

Toda a paz que tem perdido

Na triste face da Terra


Se o Cristo tão poderoso

A Deus fizesse o pedido

Aquele povo maldito

Seria dali banido

E o meu sonho era de ver

Tudo isto acontecer

Conforme a crença vulgar

Que o Messias guerreiro

Viria à Terra primeiro

Para aos judeus libertar


Mas que demora era aquela

Porque Ele não agia?

O que o Senhor aguardava?

E a minha mente fervia...

O que eu podia fazer

Para que pudesse ver

Sua poderosa ação

Pois Ele algo aguardava

E só curava e pregava

O reino da salvação


Minha mente então fervia

De pressa e ansiedade

Na espera da sua ira

Sobre os donos da cidade

Então bolei grande plano

Pra que o Mestre soberano

Vendo-se encurralado

Pudesse aos céus abrir

E com ira destruir

O inimigo detestado


Fingindo ser traidor

Fui a procura de Anás

Invejoso e vingador

Ligeiro chamou Caifás

Crendo os dois que eu vendia

Jesus pela ninharia

De apenas trinta dinheiros

Então como eles buscavam

O Mestre e não encontravam

Caíram como cordeiros


Eu sabia que o Mestre

Em breve os destruiria

Pois Jesus não aceitava

Crueldade e hipocrisia

Eram poços de maldade

E assim tramaram à vontade

E eu esperava somente

Que Jesus cheio de glória

Faria a nova história

Daquele dia pra frente


Assim pensei e assim fiz

Nunca esperei outro fim

E quando ao Mestre beijei

Num sinal torpe e ruim

O Senhor como um cordeiro

Se entregou por inteiro

E ainda chamou-me “amigo”

E até hoje não me sai

O sentido de quem trai

E é traído consigo


Ainda segui seus passos

Esperando que Jesus

Abrisse os céus e vencesse

Mas quando O vi com a cruz

Sendo ali crucificado

Foi o fardo mais pesado

Que nessa vida levei

Cheio de remorso e dor,

De sofrimento e de horror

O suicídio então busquei


Pois nessa hora eu entendi

Do Cristo toda a missão

Compreendi a verdade

Do termo libertação

Que importa a raça romana

Ou qualquer outra tirana

Se há liberdade do amor

Liberdade do perdão

Fraternidade de irmão

E comunhão como Senhor!


A vida continuava

Eu não morria jamais

E além de me torturar

Sem ter perdão, sem ter paz!

Condenado ano após ano

Pelo contexto humano

Sem ter direito a defesa

Hoje sem honra e sem glória

Trouxe a todos minha história

Da alma abri a represa!


Quando Judas se calou

Um sentimento sem fim

Da grandeza da poesia

Derramou-se sobre mim

E os meus versos caiam

Como que d’alma saíam

Levando onde há treva a luz

Hoje dei voz ao zelote

Ao Judas Iscariotes

E sua Paixão por Jesus


Memória aqui não me falta

Entoa a poesia e salta

Revelando toda a palta

Livre de todo pavor

Assim meu verso agiganta

Nas asas da vida canta

Imortal Lira que encanta

Onde falta paz e amor!

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

AI SE SESSE

AI SE SESSE
(Poeta Zé da Luz)

Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse

Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse

Mas porém acontecesse 
E São Pedro não abrisse
As porta do céu e fosse 
Te dizer quarquer tulice

E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse 
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caísse

E o céu furado arriasse 
E as virgi toda fugisse

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

ADEUS ROLANDO BOLDRIN

 



ADEUS A ROLANDO BOLDRIN
(Merlanio)

Ficamos tristes e ficamos pobres
Nossa Cultura já tão perseguida
Sente essa dor de outra despedida
Desse poeta de alma e mente nobres
O nosso eterno Rolando Boldrin
Santo Caipira e doce passarim
Que aqui cantou a poesia e a verdade
Deixou a terra dos encantos seus
Foi declamar bem juntinho de Deus
Deixando em nós a infinita saudade

Saudade além da falta na Cultura 
Que sua voz tinha vez no Planeta 
Ele tirava o Brasil da gaveta
Com seus programas caipiras raiz
E no Domingo a nação esperava
Aquela velha canção que cantava
Lá dos sertões o Brasil escutava
Que ele fazia meu povo feliz

Quantos poetas e compositores
Tiveram voz ao lado de Boldrin
Ia rolando a Cultura sem fim
Que nos rincões do Brasil existia
Foi sim a grande expressão da beleza
Com seu amor a Arte e a Natureza
Manteve chama da luz sempre acesa
Seu nome hoje também é poesia

E Boldrin foi fora do combinado
E este país é mais pobre e mais triste
Sem os seus causos o riso inexiste
Sem sua força e os cuidados seus
De quem viveu o valor a Cultura
De quem viveu a Cultura mais pura
Mestre Boldrin fez a semeadura
Para colher hoje das mãos de Deus
(Merlanio)



quarta-feira, 9 de novembro de 2022

HOJE DEUS CARREGOU GAL



HOJE DEUS CARREGOU GAL (Merlanio)

 

Hoje o dia está mais triste

Um dia estranho e silente

A Arte calou de repente

Fez-se Arte sepulcral

A Arte se faz em sonho

E eu me despeço tristonho

Desse vozeirão medonho

E hoje Deus carregou Gal

 

Gal Costa Avatar da música

O Sex symbol Gal Costa

Voz potente, aguda e imposta

Que se fez a Gal Fatal

A bela Índia gaúcha

Que pela música encantou-se

Pela música baianou-se

E hoje Deus carregou Gal

 

Gal foi a mulher de fibra

Sempre à frente o tempo inteiro

Com o seu charme fagueiro

Mostrou ser fenomenal

Enfrentou a Ditadura

Fez escola na Cultura

Com sua Arte linda e pura

E hoje Deus carregou Gal

 

Foi sim Maria da Graça

Linda como a Luz do Sol

De sustenido a bemol

Na força espiritual

Com o repertório gigante

Tomzou, Gilzou, Caetaneou

Caymmou, João Gilbertou

E hoje Deus carregou Gal

 

Não foi Dia de Domingo

Não viu-se a Vaca Profana

Nem Folhetim na semana

O Sonho Meu foi legal

Colhi a pérola Negra

Cantei na Chuva de Prata

Levei Baby à serenata

E hoje Deus carregou Gal

 

A Deusa da Minha Rua

Adeus Maria da Graça

Adeus que aqui tudo passa

Adeus a Arte magistral

Adeus belos espetáculos

Adeus a alma fagueira

Adeus canção brasileira

Que hoje Deus carregou Gal

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(Merlanio - Para Gal Costa no dia da sua partida pra Vida Maior)