(Continuação...)
PRIMEIRO POEMA
Continuando a minha Saga pelos caminhos da Arte.
A partir daquele dia, sempre ia a Biblioteca para pegar
um livro para aquela semana.
Maria, a moça da Biblioteca já escolhia os livros
infantis para minha leitura.
O Diretor do Ginásio Diocesano era o Padre José Sinfrônio
de Assis. Muito amigo da minha mãe e tinha o respeito do meu pai. Tanto assim
que o padre, foi padrinho de batismo do meu irmão mais novo, Makários.
E este padre, adotara seu sobrinho, da mesma minha idade,
que era muito estudioso. E um certo dia, o padre levou seu sobrinho Eliézer
para apresenta-lo a gente. Éramos seis irmãos, todos meninos.
O padre queria entrosar seu sobrinho conosco. E, de fato,
ficamos grandes amigos, até a sua morte pela Pandemia de Covid-19.
Começamos a criar um vínculo forte de amizade e criamos
um grupo de Teatro Turma da Mônica. Interpretando para nós mesmos nos espaços
vazios do Ginário. Pois ali era a residência do padre e de Eliézer. Depois
outras crianças de outras cidades, que desejavam estudar, foram ali morar, mas
nossa amizade nunca diminuiu.
E líamos muito. Eliézer também adorava Gibis e a gente
colecionava estes HQs que inspiravam nossa vida.
Foi Eliézer que descobriu que na Biblioteca tinha livros
de poesia. E de cara fiquei apaixonado por Castro Alves e Olavo Bilac
Decorávamos os poemas com muita rapidez, mas eu ainda não estudava no Ginásio.
Somente no ano seguinte.
Um certo dia, na minha caverna mágica, inspirei-me em
Olavo Bilac e fiz um poeminha de amor. Decassílabos com três estrofes e quatro
verso. Falava de um amor que me tirava o fôlego. E eu tinha 9 anos.
Fiz e mostrei a minha mãe sob os olhos invejosos de dois irmãos
que fizeram a maior zoação e eu escondo deles o resto do poema.
Mas o diabo está nas entrelinhas.
O meu pai era um homem genuinamente sertanejo. Brabo que
só um carcará. Bruto que somente um rinoceronte chega perto e tinha uma
adoração pelos poemas de Zé da Luz, cujos poemas matutos que revelavam
tragédias, ele decorava, apesar de suas trinta estrofes. Era tanta a qualidade
da sua declamação, que não raro os radialistas o convidavam para um mini-show
de declamação nas rádios. Ao que meu pai, extremamente vaidoso adorava.
Mas em casa nos tratava como soldados de um quartel
imaginário da sua cabeça dura. Ouso dizer que temíamos mais ao meu pai do que a
própria morte! A morte não nos apavorara, ele sim.
Um dia, na hora do almoço, aquele meu irmão, sem ter nem
pra quê, disse:
- Papai, Merlanio escreveu um poema dele mesmo.
- Foi? Merlanio, vá buscar que quero ler.
Foi a morte! Como mostrar o primeiro poema para grande declamador e, além disso, pavor nosso
de cada dia? Fui porque não podia dizer não, que ele não aceitava. Até para
dizer uma negativa, como: Meu filho, está chovendo?
A gente respondia: Sim senhor. Não está chovendo não, sim
senhor.
Tinha que dizer não entre dois sim senhor.
Entreguei o poeminha e ele leu. Fez ar de riso, mas
somente o ar mesmo. E disse:
- Parabéns! Bonito poema. Mas um poema de amor, meu
filho, você nem tem dez anos.
E rasgou meu primeiro poema!
Depois começou a almoçar e eu me tremendo entre ódio do
meu irmão e pavor dele, com a alma revirando e o amor próprio destruído.
Terminei meu prato e saí para minha caverninha.
Nunca mais eu escreverei uma linha, MALDITOS!
Minha mãe ainda tentou colar os pedaços do poema, mas o
vento já tinha levado a maior parte dele e se perdeu na noite dos anos.