sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

VERSOS ESPARSOS



SOBRE SAUDADE


A saudade é um afeto

Que traz sofrimento e dor

Lembrar do que não mais é

No frio sentir seu calor

Cobrar Deus na despedida

Não ter saudade na vida

É prova que falta amor

(Merlanio)



SAUDADE


À tarde no Cemitério

Quando o povo se afastava

A viuvinha ia ao túmulo

Do seu amor e urinava

O Coveiro que assitia

Aquela estranha mania

Só por curiosidade

Pergunta: Porque, senhora?

-- Seu Coveiro, a gente chora

Por onde sente saudade!

(Merlanio)


AOS QUE ME INVEJAM #2806


Você que morre de inveja

Dos pobres pendores meus

Arranje vergonha e peça

Depressa perdão a Deus

Vá cuidar da sua vida

E procure outra saída

Fure o olho anti-fraterno

Melhor um cego na luz

Do que um vidente na cruz

A queimar no próprio inferno!

(Merlanio)



AOS QUE ME ACHAM LOUCO #2807


E eu que me rio em cascata

Se louco me vaticinas

E normótico destinas 

O teu nanismo mental

E eu que sou filho dos deuses

Estou contigo um momento

Que meu lar é o firmamento

Meu reino é espiritual


Tua riqueza mais rica

Lá no meu mundo é funérea

Tudo que vem da matéria

É um não-ser no meu mundo

Se tens carros e eu uso as asas

Tens mansões e eu o universo

Levarás ao Multiverso

O espaço e tempo infecundos?


Se aqui não guardo dinheiro

Tenho a luz das dimensões

Tenho sonhos e visões

Que a normose não alcança

Venho de sóis de esplendores

Sou peregrino das flores

Sou gentileza e esperança


Teu corpo nessa matéria

É veículo passageiro 

Triste clown em picadeiro

E eu sou viajor nos meus

Tu que te achas tão nobre

Se lembrasse de onde vem

Também serias do bem

Como eu: FILHO DE DEUS!

(Merlanio)



DAQUI A CEM ANOS #2808


Daqui a exatos cem anos

Todos mundo estará morto

Eu, você, nossos amigos

Já partimos deste porto

Objetos, carro, casa,

Conta, tudo criou asa

Nem se lembrarão de nós

Nada nosso haverá mais

Como os nossos ancestrais

Será o após do após


Porque então te preocupas?

O apego, a ganância, a gana,

Para que tanto egoísmo

Se a própria raça humana

Vai passar e segue a vida 

De uma forma incontida

Tudo tudo vai passar

É hora de compreender

Que a mágica do viver

É na passagem se amar


Amar e curtir a vida

Desapegar das bobagens

Ficar livre, leve e solto

Ter o mínimo nas bagagens

Mergulhar no imenso amor

E alegrar por onde for

Amar tudo que se faz

Integrar-se à natureza

Artefazer a beleza

Acender, manter acesa

A Luz do Bem e da Paz

(Merlanio)



RETIRANTE


Vindo do Sertão profundo

O pau-de-arara gemia

Levava cem capiaus

Dentro da carroceria

Às tantas da madrugada

Entre dormindo e acordada

A mulher de supetão 

Diz: Ô Irineu Tu tá neu?

- Eu não, responde Irineu

Ô Irineu, então tão!

(Merlanio)


VELÓRIO


Lá no Sertão num velório

Alguns falavam baixinho

Vez por outra alguém dizia:

- Morreu como um passarinho!

Mas lá fora a um pé de cana

Chamado Chico Bacana

Perguntaram na carreira:

- De que foi que ela morreu?

Chico lá do canto seu

Depressa lhe respondeu:

- Pedrada de balieira!

(Merlanio)



FIMOSE #2809


Doutor Josias Batista

Que médico indo e vortando

Mandou eu ir me ajeitando

Pra operar de fimose

É que o couro da mimosa

Já estava me atrapalhando

E assim fui me ajeitando

Pra sofrer a rebordose


Marcamos pro fim do mês

Essa minha cirurgia 

Cheguei após meio dia

Pra ficar livre daquilo

Ele explicou direitinho

E cortava sem parar

E ao terminar de operar

No final deu meio quilo


Quando eu vi o couro todo

Inda hoje me arrupia

De onde é que saia

Toda essa pele de fato

Falei com Chico do couro

Que disse: Isso valeu ouro

E no final meu tesouro

Deu Mala, Cinto e Sapato!

(Merlanio)


Merlânio Maia, Sr.Cordel, é poeta e cordelista paraibano. 

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