SOBRE SAUDADE
A saudade é um afeto
Que traz sofrimento e dor
Lembrar do que não mais é
No frio sentir seu calor
Cobrar Deus na despedida
Não ter saudade na vida
É prova que falta amor
(Merlanio)
SAUDADE
À tarde no Cemitério
Quando o povo se afastava
A viuvinha ia ao túmulo
Do seu amor e urinava
O Coveiro que assitia
Aquela estranha mania
Só por curiosidade
Pergunta: Porque, senhora?
-- Seu Coveiro, a gente chora
Por onde sente saudade!
(Merlanio)
AOS QUE ME INVEJAM #2806
Você que morre de inveja
Dos pobres pendores meus
Arranje vergonha e peça
Depressa perdão a Deus
Vá cuidar da sua vida
E procure outra saída
Fure o olho anti-fraterno
Melhor um cego na luz
Do que um vidente na cruz
A queimar no próprio inferno!
(Merlanio)
AOS QUE ME ACHAM LOUCO #2807
E eu que me rio em cascata
Se louco me vaticinas
E normótico destinas
O teu nanismo mental
E eu que sou filho dos deuses
Estou contigo um momento
Que meu lar é o firmamento
Meu reino é espiritual
Tua riqueza mais rica
Lá no meu mundo é funérea
Tudo que vem da matéria
É um não-ser no meu mundo
Se tens carros e eu uso as asas
Tens mansões e eu o universo
Levarás ao Multiverso
O espaço e tempo infecundos?
Se aqui não guardo dinheiro
Tenho a luz das dimensões
Tenho sonhos e visões
Que a normose não alcança
Venho de sóis de esplendores
Sou peregrino das flores
Sou gentileza e esperança
Teu corpo nessa matéria
É veículo passageiro
Triste clown em picadeiro
E eu sou viajor nos meus
Tu que te achas tão nobre
Se lembrasse de onde vem
Também serias do bem
Como eu: FILHO DE DEUS!
(Merlanio)
DAQUI A CEM ANOS #2808
Daqui a exatos cem anos
Todos mundo estará morto
Eu, você, nossos amigos
Já partimos deste porto
Objetos, carro, casa,
Conta, tudo criou asa
Nem se lembrarão de nós
Nada nosso haverá mais
Como os nossos ancestrais
Será o após do após
Porque então te preocupas?
O apego, a ganância, a gana,
Para que tanto egoísmo
Se a própria raça humana
Vai passar e segue a vida
De uma forma incontida
Tudo tudo vai passar
É hora de compreender
Que a mágica do viver
É na passagem se amar
Amar e curtir a vida
Desapegar das bobagens
Ficar livre, leve e solto
Ter o mínimo nas bagagens
Mergulhar no imenso amor
E alegrar por onde for
Amar tudo que se faz
Integrar-se à natureza
Artefazer a beleza
Acender, manter acesa
A Luz do Bem e da Paz
(Merlanio)
RETIRANTE
Vindo do Sertão profundo
O pau-de-arara gemia
Levava cem capiaus
Dentro da carroceria
Às tantas da madrugada
Entre dormindo e acordada
A mulher de supetão
Diz: Ô Irineu Tu tá neu?
- Eu não, responde Irineu
Ô Irineu, então tão!
(Merlanio)
VELÓRIO
Lá no Sertão num velório
Alguns falavam baixinho
Vez por outra alguém dizia:
- Morreu como um passarinho!
Mas lá fora a um pé de cana
Chamado Chico Bacana
Perguntaram na carreira:
- De que foi que ela morreu?
Chico lá do canto seu
Depressa lhe respondeu:
- Pedrada de balieira!
(Merlanio)
FIMOSE #2809
Doutor Josias Batista
Que médico indo e vortando
Mandou eu ir me ajeitando
Pra operar de fimose
É que o couro da mimosa
Já estava me atrapalhando
E assim fui me ajeitando
Pra sofrer a rebordose
Marcamos pro fim do mês
Essa minha cirurgia
Cheguei após meio dia
Pra ficar livre daquilo
Ele explicou direitinho
E cortava sem parar
E ao terminar de operar
No final deu meio quilo
Quando eu vi o couro todo
Inda hoje me arrupia
De onde é que saia
Toda essa pele de fato
Falei com Chico do couro
Que disse: Isso valeu ouro
E no final meu tesouro
Deu Mala, Cinto e Sapato!
(Merlanio)
Merlânio Maia, Sr.Cordel, é poeta e cordelista paraibano.
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