quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

NOVA ONDA DA MENTIRA

NOVA ONDA DA MENTIRA
Merlânio Maia


Doutor, eu nasci num mundo
Diferente da cidade
Cresci-me, desenvolvi-me
Numa terra de verdade
Que é chamado sertão
Onde o maior palavrão
É a desonestidade

Mas a verdade hoje em dia
É ridicularizada
A mentira hoje é virtude
Que deve ser cultivada
Seja em círculos sociais
Em palanques, tribunais...
Como carta a ser jogada

Mente o filho para os pais,
Mente a mulher pro marido,
Mente a moça de família,
Mente vítima e bandido,
Mente o bandido ao juiz,
Pois se crescesse o nariz
O mundo estava perdido

Mente o juiz e prefeito,
E mente o vereador
Mente o maior presidente
E mente o governador
Mente o policial
Mente quem escreve o jornal
Mente o doente e o doutor

Quem mente sabe que mente
E que o outro está mentindo
Se o pensamento se ouvisse
Desatino se ia ouvindo
- Ô cabra mais mentiroso!
- Não me minta seu tinhoso!
- Essa eu não vou engolindo!

Pensa a mulher do marido:
- Eu sei que é tudo mentira!
E o marido da mulher:
- Êta bichinha traíra!
E o pai pensa com a filha:
- Pensei que era de família!
Ali a mentira agira

De tudo que degenera
A mentira vem na frente
Quem não mente nesta vida
Fica logo diferente
E passa a ser perseguido
Atentado e corrompido
Num mundo que sempre mente

É hora de dar um basta
Em tanta hipocrisia
Dignidade e respeito
Eis um som que arrepia
E fazer como a criança
Que não mente e nem se cansa
E a verdade é alegria

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