quinta-feira, 2 de maio de 2013

POESIA DA MINHA INFÂNCIA

Meu povo,

A postagem anterior me lembrou meus tempos de menino no sertão paraibano, quando aos nove anos escrevi meu primeiro poema, inspirado pelas leituras, escondidas, dos cadernos de poemas do meu irmão mais velho, que traziam sonetos de Bilac, muitos poemas de Castro Alves, Cecília Meireles, Antero de Quental e outros.

O Padre José Sinfrônio de Assis, emérito educador da minha cidade de Itaporanga, já me colocara para decorar e declamar nos dias de festa do Ginásio vários poemas que vinham desde Jansem Filho, Zé da Luz, até Guilherme de Almeida, entre outros, mas declamar era uma coisa e outra, bem diferente, era escrever, produzir, parir de minhas entranhas, um poema.

Naquele dia, em que mostrei aquele poema aos meus irmãos, recebi olhares de espanto e alegria, talvez até de inveja, por isso, trazia, em si, uma sentença, pois foi o bastante até meu pai, Natercio, chegar. O meu pai era poeta, grande declamador, amante da boa poesia, mas duro contra tudo aquilo que pudesse nos desviar da linha reta, que traçara para seus filhos.

Assim, ao chegar para almoçar, algum dedo-duro, já tinha me sentenciado, pois o velho já sabia do ocorrido.

Ele me chamou com um, certo sorriso que não esqueço, e me pediu para ver o poema. E eu, entre tímido e apavorado, o vi ler as quatro estrofes em decassílabo. Era um poema de amor!

E o que falou nessa hora foi duro para um menino poeta em seu devaneio artesanal das palavras:

- Muito bom, meu filho! Mas um poema de amor de um menino de nove anos? Esqueça estas coisas e, em seguida, rasgou meu primeiro voo nos céus da poesia. Eu saí cabisbaixo e arrasado!

Nem sequer chorei! Mas meu peito doía, como se aquela autoridade, houvesse trancado a porta da minha alma rumo à liberdade poética.

Não mais escrevi, mas voraz leitor, nunca me afastei dos livros.

Já na adolescência, desafiado por colegas, comecei a versejar. Mas na linha da poética popular. Os cantadores e violeiros da época, bem como os emboladores de côco e aboiadores nos inspiravam neste sentido. Ali falávamos de tudo. Desde a chuva que chegava, ao olhar esverdeado de uma colega mais bonita, aos romances dos animais que a natureza nos mostrava. Assim voltei a escrever.

Depois o teatro chegou e me fez caminhar pela dramaturgia, atuar como ator e me descobrir como um poeta nato. Sobre tudo fazia poemas e os declamava.

Quando vim para João Pessoa, fazer o terceiro ano científico, como era chamado, a arte já era minha companheira. No Lyceu Paraibano fui para o grupo de danças folclóricas e para o teatro. Não parei mais.

Hoje, olhando o passado, tenho saudades e, meu pai, que já fez a grande viagem, já perdoei até poeticamente, fazendo poemas de amor para ele, grande declamador, cujo ofício seu, de declamar e escrever, me honram e me fazem ser quem sou: Um Artesão da Poesia!

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