SOBRE REVELAÇÕES DO ORÁCULO
Triste função do oráculo
Que traz a capacidade
De entrever a verdade
Dos doidivanas de então
Que buscam sofregamente
O que Deus lhes escondeu
Dum passado que se deu
Hoje esquecido da mente
E buscam o pobre oráculo
Que já está avisado
- Não revele o passado
Que Deus não dá permissão
Mas por conta de interesse,
De ansiar pelo poder
De ter visto e conhecer
E descamba na ilusão
Diz à mãe que a própria filha
Foi amante do marido
E semeia o alarido
Que nada vai ajudar
A partir daquele instante
Haverá desconfiança
Ciúme e a pobre criança
Vive infeliz nesse lar
E o oráculo continua
- Este homem seu esposo
Foi rico e viveu do gozo
Tinha tudo em seu lugar
E a esposa envenenada
Grita: - Cabra preguiçoso
O teu passado horroroso
Agora irás me pagar!
E a fila em casa do médium
Chega a dobrar na esquina
Todos querem ver a sina
Daqueles passados seus
E o oráculo receitando
Revelando as outras eras
Envolvido em quimeras
Esquecendo o dom de Deus
- Acabe este seu namoro
Que não há um compromisso
Acabe logo com isso
Senão vai ser infeliz!
E sai destruindo tudo
Que o esquecimento traz
E o livre arbítrio desfaz
Com o que o oráculo diz
E o poder lhe sobe à mente
Perde a razão e a calma
E sai vendendo sua alma
Por poder e vaidade
E a comunidade inteira
Tem hoje à palma da mão
Que um passado malsão
Todos tem e isso é verdade
- Eu sei o que você fez
Naquela vida passada!
É a fala da entrada
Frontispício oracular
E o povo vai se enredando
Nas revelações do dia
E um mundo de fantasia
O oráculo vai criar
Se o oráculo sabe tanto
Se arvora ser mais que Deus
Que criou os filhos seus
E impôs não lembrar um dia
E aquele médium prossegue
Só vai saber da verdade
Um dia na eternidade
Que era engodo do seu guia
E todos vivem um engodo
Uma mentira malsã
De um guia que amanhã
Rirá de todo espetáculo
E a tola comunidade
Caiu naquela mentira
E vive entre ódio e a ira
Por ter crido no oráculo!
(Merlanio)
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