quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

POEMAS DE EMERSON BARROS Pr.

 O BURRINHO

E. Barros de Aguiar


Há quem passe pela vida

Sem se lembrar de si

Numa existência convertida

Apenas em servir

Quem desse mal padece

De si próprio esquece

Como o burro de carga

Que em jornada larga

Não para e nem descansa

Dedicado aos favores alheios

Puro como uma criança

Sem medidas e nem receios

Pensa na família, nos parentes,

Nos irmãos, nos descendentes

Nos vizinhos, nos doentes

Nos pobres, nos dependentes

Em todos, menos nele mesmo

Come só se der e se puder

Se desgasta, dorme a esmo

Desse mundo nada quer

Como na história do burrinho

Que mesmo doentinho

Era explorado por seu dono

Que, sentado em seu trono

Nunca lhe dava descanso 

Fazendo-o ir além do que podia

Forçando o animal manso

- Não pare! Trabalhe! - dizia.

Só a besta sabia o que sofria

No dia quente e na noite fria

Diante de tanto sofrimento

Alguém quis cessar o tormento

Daquele triste animal

Buscando uma autoridade

Que pusesse fim aquele mal

Procurou um outro frade

Que era o seu superior

Homem santo, de valor

Embora enfermo, moribundo

Tinha um amor profundo

Por toda a criação 

Ele, tendo ouvido o relato

Propôs uma intervenção

Para tratar do fato

Junto ao dono do burrinho

Merecedor de carinho

E não de brutalidade

Nem de qualquer maldade

Foi quando o irmão Leão

Que era o nome do irmão

Que foi prestar a queixa

Aproveitou aquela deixa

Para dizer ao seu superior:

- Querido Pai Francisco 

 Esse Burrinho é o senhor!

Que sem avaliar o risco

Dedicou-se a vida inteira

Até a hora derradeira

A todos os necessitados

De teto, de pão, de cuidados

Descanse, meu Pai querido

Pois depois desta vida

Certamente será recebido

Pelo Senhor que o Convida

A estar com Ele no mais Alto Céu

Para além de todo véu

Do egoísmo humano

Que domina neste plano

Disse Francisco, bem baixinho

Passando a mão em seu peito

- Desculpe-me, meu burrinho

Por lhe tratar desse jeito.

Como perdoar tal pecador?

Que com tamanho amor

Ousou imitar o Mestre?

Passando no difícil teste

Da superação do egoísmo

Agindo com abnegação 

Dedicação e altruísmo

Jamais sonegando a mão

A quem dela precisasse

Fazendo que Jesus brilhasse

Em cada lágrima enxugada

E em toda ferida tratada

Oh, Senhor, perdoai-os

A todos esses que são assim

Acolhei-os, abraçai-os

Digo por meus irmãos e por mim

Atendei a nossa prece

Mandai mais destes  pecadores

É disso que este mundo carece

De mais burrinhos sofredores


SEM RESERVAS

E. Barros de Aguiar


Na vida faça o bem

Ajude, console

Perdoe também

Ame, cantarole


O campo florido

Pintado de cor

Em vivo esplendor

De amor ungido

É todo mantido

Pela Benção do Céu

Assim como nós

E as aves ao léu


Que o singelo trinar

Que se ouve na relva

E na densa selva

Te possa lembrar

Que deves andar

Como o mestre andou

Pois foi sem reservas

Que Ele te amou

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