sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A FORMIGUINHA E O FLOCO DE NEVE

 

A FORMIGUINHA E O FLOCO DE NEVE

João de Barro (Braguinha)

Adaptação: Merlânio Maia


Nos tempos que, lá no meu torrado sertão, havia invernos rigorosos e os animais e as coisas e os astros e estrelas falavam, há muitos tempos atrás, uma Formiguinha sertaneja, sai da toca ou buraco em busca de comida, pois naquele inverno, já escasseava.


E ela saiu caminhando naquela imensidão de neve, quando mais à frente, o vento soprou na árvore, a árvore se estremeceu e, de um dos seus galhos, caiu um floco de neve bem na perna da Formiguinha a prendendo ao chão.


A Formiguinha tentou, tentou e tentou soltar o pezinho, mas qual o quê! Nada conseguiu.


Depois de muuuuiiiiiittoooooo esforço olhou e vou que o Sol observava sua luta, então ela gritou:


- Ó Sol, tu que é tão forte, que derrete a neve, solta o meu pezinho para eu não morrer de frio.


E o Sol disse lá da sua distância imensa:


- Forte, eu? Eu não sou forte, Formiguinha, forte é o Muro que me tapa.


A Formiguinha olhou e viu o Muro lá parado, claro, parecendo um dois de paus. Então falou:

- Ó Muro, tu que és tão forte, que tapa o Sol, que derrete a neve, solta meu pezinho para eu não morrer de frio.


- Forte eu? Disse o Muro. Forte é o Rato que me rói.


A Formiguinha viu que o Rato vinha ali e começava a roer o Muro e disse:


- Ó Rato, tu que és tão forte que róis o Muro que tapa o Sol, que derrete a neve, solta meu pezinho para eu não morrer de frio.


E o Rato olhou pra traz e saiu correndo, mas antes falou quase gritando, vendo o Gato em seu encalço:


- E eu sou forte, Formiguinha, forte é o Gato que me come.


A Formiguinha gritou para o Gato:


- Gato! Ó Gato, Gato! E o Gato parou e olhou manhosamente para a Formiguinha e ela gritou:


- Ó Gato tu que és tão forte que comes o Rato, que rói o Muro, que tapa o Sol que derrete a neve, solta meu pezinho para eu não morrer de frio.


E o Gato disse olhando para traz incomodado com um latidos.


- Eu sou lá forte, querida. Forte é o Cão que me persegue.


Lá vinha o Cão latindo pro Gato e a Formiguinha disse:


- Ó Cão, tu que és tão forte que persegue o Gato, que come o Rato, que rói o Muro, que tapa o Sol que derrete a neve, solta meu pezinho para eu não morrer de frio.


O Cão latindo disse:


- Eu nem sou forte. Forte é o Homem que me bate.


Lá vinha o homem que era só preguiça e a Formiguinha disse, já fraquinha:


- Ó Homem, tu que és tão forte, que bate no Cão, que persegue o Gato, que come o Rato, que rói o Muro, que tapa o Sol que derrete a neve, solta meu pezinho pra eu não morrer de frio.


E o Homem disse friamente:


- Eu não sou forte. Forte é a Morte que me mata.


E a Formiguinha deitada na neve olhou e viu que a Morte vinha passando por ali, não se sabe o porquê. E disse:


- Ó Morte, tu que és tão forte que matas o Homem, que bate no Cão, que persegue o Gato, que come o Rato, que rói o Muro, que tapa o Sol que derrete a neve, solta um pezinho pra eu não morrer de frio.


E a Morte cheia de purpurina, dançou, sapateou e disse a Formiguinha:


- Querida eu mato, mas não sou forte. Forte é Deus que me governa!


E a Formiguinha já sem forças falou com Deus pelo seu pensamento, na profundidade de uma oração:


- Ó Deus, Pai soberano, tu que tudo podes. Tu que és tão forte que governa a Morte, que mata o Homem, que bate no cão, que persegue o Gato, que come o Rato, que rói o  Muro, que tapa o Sol que derrete a neve, solta meu pezinho pra eu não morrer de frio.


E Deus que escuta todas as criaturas e todas as coisas, ouviu a Formiguinha e mandou que viesse a Primavera com seu carro dourado libertando o Sol e derretendo a neve e depois de soltar o pezinho da Formiguinha, disse:


- Formiguinha, Deus mandou que te levasse para conhecer seu reino de amor e bondade, pois é ali que não mais há dor e sofrimento e todos são felizes e vivem de amar.


E a colocou no seu carro de ouro e seguiu para aquele local. A Formiguinha viveu feliz para sempre!

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