Chico Xavier conta que estava no Cemitério de Pedro Leopoldo, pequena cidade mineira em que nasceu, quando um jovem padre se aproxima dele.
- O senhor é Chico Xavier?
- Sim senhor!
- Aquele que fala com os defuntos?
- Sim senhor.
- Os espíritos das trevas têm muita astúcia para seduzir para o mal.
- Mas os espíritos que se comunicam através de mim somente pregam o Bem.
Diante da resposta, o padre lançou um desafio. Puxou um papel do bolso e uma caneta e perguntou:
- Aqui é um ambiente que deve estar recheado deles, num é? Será que algum teria disposição de se comunicar agora?
Chico recebeu o papel e a caneta e veio o espírito da poetisa Auta de Sousa que deixou seu nome neste soneto que acho seja uma das maiores joias da língua portuguesa.
O sino plange em terna suavidade,
No ambiente balsâmico da igreja;
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.
Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade.
“Adeus, Terra das minhas desventuras...
Adeus, amados meus...” — diz nas alturas
A alma liberta, o azul do céu singrando...
— Adeus... — choram as rosas desfolhadas,
— Adeus... — clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio soluçando...
Nascida em 12 de setembro de 1876, em Macaíba, Rio Grande do Norte, Auta de Souza desencarnou em 7 de fevereiro de 1901, portanto, aos 24 anos, em Natal. O soneto acima integra o Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Chico Xavier.
Nenhum comentário:
Postar um comentário