sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A chegada de Eduardo no Cordel


31 DE AGOSTO DE 2014

Clipagem ASCOM
Recife, 31 de agosto de 2014
 A chegada de Eduardo no Cordel
:: Jornal do Commercio
JC Mais
Destino traçado, vôo sem volta, explosão. Eduardo Campos definitivamente virou mito e, também, personagem da literatura de cordel. Numa breve busca pela internet, encontramos quatro exemplos de poemas falando sobre o acidente que o vitimou, no último dia 13: Carlinhos Cordel, Adelmo Vasconcelos, Merlânio Maia, Davi Teixeira e Meca Moreno utilizaram este formato para falar da partida do ex-governador pernambucano.
O folheto de Davi e Meca foi feito de chofre, ainda sob o impacto da notícia da queda do avião. “Escrevemos na tarde seguinte à tragédia. Outros poetas também estão fazendo, mas nós fomos mais rápidos”, relembra o bezerrense Davi, de 54 anos. “A única retribuição que pudemos fazer a Eduardo foi o cordel”, diz o poeta, que pifou a impressora de casa de tanto fazer novos livretos. Os primeiros ele deu de graça, durante o velório. As levas seguintes de Eduardo Campos: a trajetória de um líder estão sendo distribuídas por todo o Recife, em pontos de venda na Casa da Cultura, aeroporto, restaurantes e bancas de revista, ao preço de R$ 2 o exemplar.
“Já temos muitas encomendas. É uma pena saber que esse cordel vai vender muito bem, pois eu preferia que Eduardo estivesse vivo”, revela. O plano, agora, é fazer uma capa nova, com xilogravura, para incorporar às futuras edições. “Para o popular, vende-se mais o folheto com a foto. Mas quando é uma pessoa estudiosa, um colecionador, prefere com xilo, porque acha mais autêntico”, ensina Davi.
Morador do Córrego do Jenipapo, ele tenta viver da poesia desde 1998 (antes, foi frentista de posto e auxiliar de almoxarifado, entre outras virações para sustentar a mulher e os dois filhos, hoje engenheiros formados). Atento ao que acontece, ele lamenta ter “atropelado” sua produção: “Foi um mês de muita desgraça, precisei interromper o cordel que estava fazendo sobre Ariano Suassuna por causa do desastre com Eduardo”.
O paraibano Merlânio Maia, poeta e músico de 52 anos, foi outro que utilizou o cordel para falar do ocorrido. “O poeta é movido pelas emoções, sente a necessidade de se expressar, mesmo que muita gente já tenha falado sobre aquele assunto. Cada um tem seu ponto de vista e sua necessidade de pôr para fora o que sente”, comenta o autor de A saga de Eduardo Campos – Homem que amou o Brasil.
Ele está se organizando com outros poetas para enviar seu folheto a uma gráfica especializada em João Pessoa. “Eduardo foi uma figura nordestina muito marcante. Eu não votava nele, mas admiro seu legado e, por isso, fiz esta homenagem póstuma”, detalha.
Merlânio é um apaixonado confesso pelo formato poético. “O cordel é muito interessante, uma espécie de precursor do jornal. Leva notícias e entretenimento ao seu público e, mesmo depois do rádio, da TV e da internet, continua vivo”, descreve.
O CAMINHO DAS REDES SOCIAIS
Segundo o poeta Marcelo Mário de Melo, que é assessor de comunicação na Fundação Joaquim Nabuco e produz cordéis há vários anos, Eduardo Campos já era uma figura presente nos folhetos, junto com seu avô Miguel Arraes e diversos outros políticos. “Eu mesmo escrevi um cordel sobre ele, chamado As quatro quedas de Jarbas e o governo 232, quando venceu a primeira eleição para governador, em 2006”, rememora.
Para Marcelo, “o cordel é um fórum tradicional que vem sendo reinventado e que, como forma poética, não tem dono”. “Hoje, o perfil de muitos poetas mudou, pois o formato foi apropriado por uma série de pessoas que não têm origem popular e rural”, analisa. Ele não vê “nenhum problema” nisso, já que “a arte é universal”.
“Atualmente, existem inclusive desafios de cordel feitos pela internet, em vez de pelejas presenciais. É a modernização. Os temas têm se modificado, não ficam mais restritos aos elementos rurais, e a edição e produção dos folhetos tem aumentado. Com isso, o cordel se perpetua em diversos extratos sociais, se enriquecendo em vez de sucumbir a uma morte que vem sendo anunciada desde a década de 1960”, afirma.
Em homenagem a Eduardo Campos, aos seus assessores Carlos Percol, Alexandre Severo, Marcelo Lyra e Pedro Valadares, e aos pilotos Marcos Martins e Geraldo Magela, Marcelo escreveu uma peça em que fala da vida e da morte amalgamadas, “em memória dos mortos e em solidariedade aos seus familiares”. Ainda não tem previsão de publicação em papel, mas os versos cumprem seu destino através das redes sociais.
FONTE: http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3829:31-de-agosto-de-2014&catid=57:fundaj-nos-jornais&Itemid=177

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