quinta-feira, 9 de agosto de 2018

ADEUS



Chico Xavier conta que estava no Cemitério de Pedro Leopoldo, pequena cidade mineira em que nasceu, quando um jovem padre se aproxima dele.

- O senhor é Chico Xavier?
- Sim senhor!
- Aquele que fala com os defuntos?
- Sim senhor.
- Os espíritos das trevas têm muita astúcia para seduzir para o mal.
- Mas os espíritos que se comunicam através de mim somente pregam o Bem.

Diante da resposta, o padre lançou um desafio. Puxou um papel do bolso e uma caneta e perguntou:

- Aqui é um ambiente que deve estar recheado deles, num é? Será que algum teria disposição de se comunicar agora?

Chico recebeu o papel e a caneta e veio o espírito da poetisa Auta de Sousa que deixou seu nome neste soneto que acho seja uma das maiores joias da língua portuguesa.


Adeus Auta de Souza

O sino plange em terna suavidade,
No ambiente balsâmico da igreja;
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.

Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade.

“Adeus, Terra das minhas desventuras...
Adeus, amados meus...” — diz nas alturas
A alma liberta, o azul do céu singrando...

— Adeus... — choram as rosas desfolhadas,
— Adeus... — clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio soluçando...



Nascida em 12 de setembro de 1876, em Macaíba, Rio Grande do Norte, Auta de Souza desencarnou em 7 de feverei­ro de 1901, portanto, aos 24 anos, em Natal. O soneto acima integra o Parnaso de Além-Túmulo, obra psicografada pelo médium Chico Xavier.

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