O poeta popular Merlanio Maia Sr. Cordel, tem uma extensa obra de Literatura de Cordel. O poeta, além de seus 17 livros publicados de forma independente, ainda mantém-se numa produção diária de Literatura em versos nos mais variados temas.
Desde as biografias de pessoas sem fama, na sociedade, até os escritores, pensadores, gestores públicos e artistas. Mas o poeta gosta mesmo é de contar histórias. Desde as Fábulas Infantis aos contos filosóficos de grandes pensadores. Dos casos do cotidiano às histórias de Trancoso, este é o nicho de pensamento do Sr. Cordel.
Já são mais de 100 Cordéis em diversos temas e causos, os mais variados.
Além disso o artista faz Shows por todos os lugares onde é convidado para contar suas histórias. É, de fato, um amante da Cultura Popular na sua criação Literária.
O poeta, músico, compositor e ativista social Merlanio Maia é o novo presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba (ACVPB). Eleito, por aclamação, no último dia 13, ele vai conduzir a entidade por um mandato de dois anos (biênio 2025/2026), em substituição ao escritor, poeta e radialista Fábio Mozart. Maia é natural de Itaporanga e acaba de receber o título de Cidadão Pessoense da Câmara Municipal de João Pessoa.
“A Literatura de Cordel, que tem por berço a Paraíba e expoente maior o poeta pombalense Leandro Gomes de Barros, já é Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro e está em vias de também ser Patrimônio Cultural e Imaterial da Paraíba. E é bem esse o foco da nova gestão: levar ao povo paraibano esta identidade do verso, principalmente junto ao alunado das nossas escolas públicas e privadas, este instrumento que pode ajudar na melhoria o desempenho na escrita e na leitura dos estudantes”, declara Maia.
Merlanio considera ainda que a Literatura de Cordel é um tesouro cultural que pode alavancar a Educação e mostrar caminhos culturais importantes para a população paraibana, para além dos processos formais na Educação. “É uma atividade artística diversa, que engloba a literatura, a música, o teatro e as artes visuais. O Cordel é uma fonte potencial da Economia Criativa, no engrandecimento do turismo e do lazer. A Academia vai continuar buscando formas de valorização dos cordelistas, profissionais e amadores, que têm mantido esta produção incrível, mesmo sem a devida valorização desta bela e forte arte”, acrescenta.
O processo de renovação da diretoria da ACVPB foi concluído, formalmente, nesta segunda-feira, 23, com a divulgação de uma resolução da Comissão Eleitoral, presidida pelo escritor e poeta Edson Maria Gomes, respeitado o prazo recursal previsto no Estatuto Social da entidade. A comissão foi composta ainda pelos associados Antônio Joaquim Alves e Sanderli José da Silva.
Assumem o corpo diretivo, juntamente com Merlanio Maia, o escritor e jornalista Dalmo Oliveira (vice-presidente), o poeta, ator e encenador Bento Júnior (secretário-geral) e o poeta e compositor Arnaldo Mendes Leite (tesoureiro). Já o Conselho Fiscal passa a ser composto pelos poetas Manoel Belisário, Robson Pereira Teixeira e Matheus Ferreira.
Merlânio lembra que a ACVPB é um coletivo igualitário e por isso precisa funcionar de maneira colaborativa. “Todos os GT’s vigentes serão reformulados e potencializados, e outros poderão ser criados. Editoração e Eventos serão aprimorados. Um GT para revisão e atualização do Estatuto Social da entidade também está em nosso foco, assim como GT’s para tratar de assuntos sociais, como gênero, igualdade racial e ambiente”, afirma o presidente eleito. Além dos GT’s, a nova diretoria vai implementar comissões, a exemplo da Comissão de Ética e Condutas.
Poeta cordelista Merlânio Maia recebe cidadania pessoense na CMJP
13.12.2024
Secom/CMJP Olenildo Nascimento
Homenagem foi proposta pelo vereador Marcos Henriques (PT)
Na manhã desta sexta-feira (13), a Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) realizou uma sessão solene para entrega do Título de Cidadão Pessoense ao músico Merlânio Maia Barbosa. O vereador Marcos Henriques (PT) propôs a honraria e a solenidade, que foi prestigiada por familiares, amigos e colaboradores do homenageado.
Além do vereador, compuseram a mesa de trabalhos a esposa do homenageado e coordenadora do projeto ‘Boneco de Lata’ do Hospital Napoleão Laureano, Raquel Maia; o irmão e professor Bebé de Natércio; o coordenador do Movimento Paz, Almir Laureano; o presidente da Federação Espírita Paraibana, José Neto Batista; o chefe da Divisão de Literatura da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Ian Pontes; e o artista e amigo Bento Júnior.
“Hoje é um dia de muita alegria para esta Casa. Toda cidade de João Pessoa tem que se alegrar com uma homenagem a uma pessoa da estatura de Merlânio. Ele é um grande nome da cultura paraibana e, além de tudo, é um amigo. No lançamento da minha primeira candidatura, ele fez uma poesia que deu sorte, e que se arrasta até hoje nessa luta por nossa cultura. Isso me marcou muito. Merlânio é um grande referencial da cultura para todos nós, aprendi a admirá-lo e a respeitá-lo. Sempre que preciso de conselhos sobre cultura nordestina recorro a ele”, revelou.
Marcos Henriques ainda destacou que o cordelista tem o sonho de ver a construção de um Museu do Cordel, onde se possa apreciar a cultura nordestina, e ressaltou que, além de artista reverenciado, o agraciado é um excelente homem de família, esposo e pai exemplar e amigo fiel. “Merlânio é um ativista da literatura de cordel e defensor da cultura nordestina. É uma grande honra conceder esse Título de Cidadão de João Pessoa a um filho que exala cultura e tem o nome de Merlânio Maia”, finalizou.
O presidente da Federação Espírita Paraibana, José Neto Batista, parabenizou a Câmara pela iniciativa de conceder o Título em homenagem a um coração tão amigo. “Essa alma sertaneja que Merlânio traz, o faz ser vanguardista. Em suas ideias enxergamos arte, cultura, o norte que guia e nunca falta”, destacou. Ele ainda revelou que o poeta esbanja satisfação na coordenação do projeto Ciranda da Arte e Cultura em Defesa da Paz, que tem levado música e poesia por toda a Paraíba. “É grande a vibração de Merlânio em cada viagem, mas onde mais esteve realizado foi na cidade de Picuí, onde acontece em praça pública, defendendo a máxima do poeta que diz que o artista vai aonde o povo está”, revelou.
O coordenador do Movimento Paz, Almir Laureano, enfatizou o perfil pacificador do homenageado. “Bem-aventurados são os pacificadores e pacificadoras, porque eles serão chamados filhos de Deus. Nesse sentido, assim como Marcos Henriques tornou ele pessoense, nós podemos assinar uma outorga dizendo que ele é filho de Deus por praticar a paz. Ele é um pacificador, e não é de hoje, é de muito tempo”, destacou.
Um dos irmãos do agraciado, Bebé de Natércio, destacou que ele é um “ajuntador” de gente e poesia, e através de uma música homenageou o fraterno artista. “Esse Título é uma espécie de brasão, uma força armorial, sobre a patente de filho de João Pessoa, que já existia em Merlânio”, asseverou.
Da vida do homenageado, Raquel Maia, sua esposa, destacou a criação do Projeto Bonecos de Lata, em 1998, no qual ambos realizam visitas ao setor pediátrico do Hospital de Combate ao Câncer Napoleão Laureano, levando alegria através da arte para as crianças. “É maravilhoso fazer o bem. Parabéns, poeta! O dia é todo seu. A Casa do Povo aqui te homenageia e te dá esse presente grandioso”, parabenizou.
Representando a Academia de Cordel do Vale do Paraíba, Bento Júnior demonstrou o respeito, o carinho e a admiração pelo homenageado, e anunciou: “Merlânio tem muita coisa boa para trazer para o nosso cordel. Fico deveras feliz em dizer que ele será o próximo presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Ele vai conduzir o que a gente já está colocando em prática, que é o Museu do Cordel e fazer com que o cordel seja cada vez mais valorizado”.
Zenaide Carvalho, presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer, salientou sua gratidão ao homenageado: “Merlânio foi o primeiro homem voluntário, ainda na década de 90. É um título muito merecido a essa pessoa tão singela, cheia de paz e amor para dar. A Rede Feminina de Combate ao Câncer é muito grata por ter esse amigo como voluntário, esse boneco de lata que faz a diferença na vida dos pacientes com câncer”.
Poemas, repentes e canções
Parte das homenagens se deu através de poemas, repentes e canções para expressar carinho a Merlânio. O chefe da Divisão de Literatura da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Ian Pontes, homenageou o cordelista através de um poema, com imagens destacando a beleza da cidade de João Pessoa e sua relação com o artista. “Este cordelista é um verdadeiro ícone da poesia pessoense, traduzindo em suas palavras a essência da cultura popular. Sua obra reflete não apenas a riqueza cultural, mas também as memórias de figuras ilustres de histórias nordestinas e pitorescas. Essa homenagem firma a importância de Merlânio para a literatura e para a identidade cultural de João Pessoa. Que sua voz continue sendo um farol de esperança e inspiração para todos. Que sua obra permaneça viva nas páginas da história da nossa amada João Pessoa”, ensejou.
Já o repentista, cordelista e escritor Oliveira de Panelas improvisou um repente em homenagem a Merlânio Maia. “Essa coisa mais linda que ele tem feito na vida, na ida e em toda hora é em que me inspiro, e tudo que ele fez outrora. Merlânio, você nem sabe, que a Paraíba nem cabe, de tão grande que você é. Mas arrumando um jeitinho, com carícia e com carinho, você se une com ela fazendo da sua arte para nós a coisa mais bela”, declamou, referindo-se a Raquel Maia esposa do homenageado.
Arnaldo Mendes, amigo de Merlânio Maia, declamou poesia de autoria própria sobre as qualidades do homenageado. “Um ser humano decente, de qualidades dotado / Um cidadão respeitado, um nordestino valente / Um sertanejo pra frente, homem de luta e coragem / Poeta de grande imagem, que muito nos enternece / Nosso poeta merece, essa tão bela homenagem”, recitou.
O cantor e amigo Adeildo Vieira homenageou Merlânio com a canção ‘Amorério’, de autoria própria. Em seguida, foi apresentado um vídeo com imagens e depoimentos de familiares e amigos que não puderam comparecer à sessão.
O homenageado contou como foi sair de Itaporanga, em meados de 1978, para a Capital, incentivado pela mãe, para que pudesse estudar. Merlânio declamou sua história em forma de poema, intitulado ‘Galope na beira do mar’, desde quando saiu de sua cidade natal, conheceu sua esposa, teve seus filhos, até receber a cidadania pessoense. Ele agradeceu a Marcos Henriques pela propositura e saudou todos que compareceram à homenagem.
“E agora a cidade que eu amo me ama, e faz-me seu filho, pois me adotou / E aquele imigrante que aqui chegou sem jeito, sem forma, sem casa e sem cama, hoje vem completo / Que a vida me chama pra um novo ciclo, hoje a iniciar / De quem já sentia no seu estradar a cidadania / Que chega tão linda, com vocês que amo é mais linda ainda cantando galope na beira do mar”, declamou.
Confira a sessão solene completa, com todas expressões artísticas clicando aqui.
O homenageado
Merlânio Maia é natural de Itaporanga, onde nasceu em 1961. É poeta, cordelista, músico, cantador, declamador e escritor. Desde a década de 1980 realiza um trabalho que alia conhecimento, humor e espiritualidade, dedicando-se especialmente à poética e à educação pela paz. Além dos shows, acumula em seu currículo artístico produções teatrais e atuações, declamações com humor e a idealização do projeto ‘Boneco de Lata’, com o objetivo de levar arte para crianças e adultos internos do Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa.
Entre cordéis, livros de poemas populares e ensaios com outros autores, o artista contabiliza dezenas de publicações, dentre as quais se destacam ‘Cantando e Contando Histórias’, ‘Cordel de Luz’, ‘Poesia Que Canto e Conto’, ‘Contos, Causos e Poesia de Chico Amor Xavier’, ‘Menestrel – o Contador de Histórias’, ‘Poesias de um Cantador’ e ‘Caridade e Outros Poemas’. No que se refere à produção musical, gravou os CDs ‘Meu Sertão Cheio de Graça’, ‘Cantoria de Luz”, “Poemas de Amor e Riso’, ‘Poetas do Meu Apreço’, ‘Cantando e Contando Histórias’ e ‘Cordel de Luz’, esses últimos com poemas declamados dos livros de mesmo nome.
O poeta Merlanio Sr. Cordel, esteve neste domingo 24, declamando na Mostra Literária do Saberes e Fazeres de Cabedelo, junto com os companheiros da ACVPB, Arnaldo Mendes Leite, Iam Pontes, Thiago Alves e outros poetas naquela festa Literária.
O artista e produtor cultural Merlanio Maia, o Sr. Cordel, no dia 28 de Setembro último, fez Show no SESC-CG Centro. Com suas canções e seus cordéis bem declamados o poeta veio para mostrar que a literatura paraibana, pois a Paraíba é o berço do Cordel, é de uma beleza e grandeza extraordinária.
O evento foi o LITERARTES no SESC CG e foi a primeira Edição do evento literário. Além do poeta muitos escritores, cordelistas e atores, pensadores e desenhistas, pois o LITERARTES juntou Cordel, Literatura Nordestina e HQ - História em Quadrinhos.
A FEIRA DO CORDEL, desde 2023, já é uma expressão cultural da cidade de João Pessoa. Idealizada pelo poeta Merlanio Maia, o Sr. Cordel, tem sido palco para muitos artistas e Cordelistas por onde passa. Esta Feira Literária já visitou as ruas e praças e shoppings de João Pessoa, levando as belezas da poesia popular nordestina e se fazendo um evento importante.
A Literatura de Cordel, Patrimônio Imaterial e Cultural Brasileiro, desde 2018, é uma literatura com DNA paraibano, pois os iniciadores do Cordel, no seu atual conteúdo, foram Leandro Gomes de Barros e Silvino de Pirauá, ambos sertanejos de Pombal e Patos na Paraíba. E esta bela literatura se espalhou pelo mundo inteiro.
A FUNJOPE - Fundação Cultural de João Pessoa, através do Secretário Marcus Alves, fez esta parceria com a ACVPB - Academia de Cordel do Vale do Paraíba, para que o Cordel fizesse parte da Festa das Neves, que comemora os 439 anos da capital paraibana, a Feira do Cordel, se fez presente trazendo os poetas: Robson Jampa, Arnaldo Mendes Leite, Francisco de Assis Freitas, Merlanio Sr. Cordel e o jornalista e cordelista Dalmo de Oliveira e ainda com a premiação do pequeno poeta Luiz Felipe e seu pai Roberto Ferreira, fazendo uma festa de declamação e música naquele espaço de Literatura.
Essa presença do Cordel mostra que esta literatura é uma força viva e pulsante, com poetas produzindo incessantemente e tem encantado todos que entram em contato. Os turistas se encantam, as crianças se divertem, professores vêm comprar para levar aos seus alunos e fazerem uma aula mais bela e cultural.
A partir daquele dia, sempre ia a Biblioteca para pegar
um livro para aquela semana.
Maria, a moça da Biblioteca já escolhia os livros
infantis para minha leitura.
O Diretor do Ginásio Diocesano era o Padre José Sinfrônio
de Assis. Muito amigo da minha mãe e tinha o respeito do meu pai. Tanto assim
que o padre, foi padrinho de batismo do meu irmão mais novo, Makários.
E este padre, adotara seu sobrinho, da mesma minha idade,
que era muito estudioso. E um certo dia, o padre levou seu sobrinho Eliézer
para apresenta-lo a gente. Éramos seis irmãos, todos meninos.
O padre queria entrosar seu sobrinho conosco. E, de fato,
ficamos grandes amigos, até a sua morte pela Pandemia de Covid-19.
Começamos a criar um vínculo forte de amizade e criamos
um grupo de Teatro Turma da Mônica. Interpretando para nós mesmos nos espaços
vazios do Ginário. Pois ali era a residência do padre e de Eliézer. Depois
outras crianças de outras cidades, que desejavam estudar, foram ali morar, mas
nossa amizade nunca diminuiu.
E líamos muito. Eliézer também adorava Gibis e a gente
colecionava estes HQs que inspiravam nossa vida.
Foi Eliézer que descobriu que na Biblioteca tinha livros
de poesia. E de cara fiquei apaixonado por Castro Alves e Olavo Bilac
Decorávamos os poemas com muita rapidez, mas eu ainda não estudava no Ginásio.
Somente no ano seguinte.
Um certo dia, na minha caverna mágica, inspirei-me em
Olavo Bilac e fiz um poeminha de amor. Decassílabos com três estrofes e quatro
verso. Falava de um amor que me tirava o fôlego. E eu tinha 9 anos.
Fiz e mostrei a minha mãe sob os olhos invejosos de dois irmãos
que fizeram a maior zoação e eu escondo deles o resto do poema.
Mas o diabo está nas entrelinhas.
O meu pai era um homem genuinamente sertanejo. Brabo que
só um carcará. Bruto que somente um rinoceronte chega perto e tinha uma
adoração pelos poemas de Zé da Luz, cujos poemas matutos que revelavam
tragédias, ele decorava, apesar de suas trinta estrofes. Era tanta a qualidade
da sua declamação, que não raro os radialistas o convidavam para um mini-show
de declamação nas rádios. Ao que meu pai, extremamente vaidoso adorava.
Mas em casa nos tratava como soldados de um quartel
imaginário da sua cabeça dura. Ouso dizer que temíamos mais ao meu pai do que a
própria morte! A morte não nos apavorara, ele sim.
Um dia, na hora do almoço, aquele meu irmão, sem ter nem
pra quê, disse:
- Papai, Merlanio escreveu um poema dele mesmo.
- Foi? Merlanio, vá buscar que quero ler.
Foi a morte! Como mostrar o primeiro poema paragrande declamador e, além disso, pavor nosso
de cada dia? Fui porque não podia dizer não, que ele não aceitava. Até para
dizer uma negativa, como: Meu filho, está chovendo?
A gente respondia: Sim senhor. Não está chovendo não, sim
senhor.
Tinha que dizer não entre dois sim senhor.
Entreguei o poeminha e ele leu. Fez ar de riso, mas
somente o ar mesmo. E disse:
- Parabéns! Bonito poema. Mas um poema de amor, meu
filho, você nem tem dez anos.
E rasgou meu primeiro poema!
Depois começou a almoçar e eu me tremendo entre ódio do
meu irmão e pavor dele, com a alma revirando e o amor próprio destruído.
Terminei meu prato e saí para minha caverninha.
Nunca mais eu escreverei uma linha, MALDITOS!
Minha mãe ainda tentou colar os pedaços do poema, mas o
vento já tinha levado a maior parte dele e se perdeu na noite dos anos.
Feito este introito, quero dizer que desde as mais
antigas lembranças da minha infância sertaneja, eu sentia que este mundo,
somente fazia sentido no fazer artístico.
Lembro-me que ver e ouvir os poetas repentistas e os
folheteiros a ler os cordéis seus e de outros autores, nas feiras, me
impressionava tão profundamente, que muitas vezes fugia de casa em busca deste
fruir perigoso, e muitas vezes tirava dinheiro do Caixa da Bodega para comprar
Cordéis. No entanto, quando era descoberto recebia duro castigo. Sim, mas não
desistia.
Outro divertimento compulsivo que tinha era ler Gibis, HQ
– Histórias em Quadrinhos. O dono da Banca de Revista já sabia desta minha
compulsão e mandava me chamar, quando chegava da sua viagem à cidade grande, de
onde trazia Gibis de TEX Willer, FANTASMA – O Espírito que anda, Gavião Negro,
Mandrake, Tio Patinhas, A turma da Monica, Zorro e tantos outros heróis que eu
tanto adorava.
Eu tinha uma maletinha velha, que pertenceu ao meu irmão
mais velho e quando ele foi descartá-la lhe pedi para colocar Cordéis, Gibis e
meus brinquedinhos de criança sertaneja. Falo em Pião, Bolinhas de Gude(Bila),
carrinho de carretel, etc.
Ao chegar na quarta série do ensino primário, fui visitar
o Ginásio Diocesano Dom João da Mata, com meu irmão, pois este foi fazer a
matrícula. Ele me deixou na Biblioteca e foi resolver suas coisas.
Foi a primeira vez que vi tanto livro na vida. A moça da
livraria, que era amiga de todos nós, cidade pequena é assim, todos se
conhecem, veio conversar comigo. E perguntou:
- Merlanio você gosta de livros?
- Não. Gosto de Gibi e de Cordel.
- Ah! Mas você precisa conhecer isto aqui.
E me mostrou a coleção de Monteiro Lobato. Toda ilustrada
com desenhos lindos. Eu folheei admirado. Nunca tinha pego um livro tão
novinho. Ninguém vinha pegar livros desses de crianças.
Ela me deixou folheando e saiu. Daqui a pouco chegou meu
irmão e ela me perguntou:
- Você não quer levar para ler em casa, este livro de
Monteiro Lobato?
Surpreso perguntei: E eu posso levar pra casa?
- Pode sim. Pois seu irmão é matriculado e pode emprestar
seu nome para você. Agora tem que devolver na segunda-feira que vem.
E eu saí com o livro de Monteiro Lobato para ler.
Adorei! Porque vi que tinha muita coisa boa para conhecer
a partir daquela Biblioteca.
E passei a semana inteira lendo e relendo aquele livro,
com tantas personagens. Emília, Narizinho, Pedrinho, o Visconde de Sabugosa, Dona
Benta...
Aquilo me encheu de alegria de tal forma que deixava de
ir jogar bola para retornar à minha caverna mágica, ao lado da minha casa, por
trás do canteiro de plantas medicinais de minha mãe.
A Arte é coisa divina. Um dia Deus enviou seus anjos à
Terra ainda dominada por dinossauros e estes Anjos artistas ensinaram os homens
a pintarem as suas presas e os seus predadores nas paredes e tetos das cavernas
onde moravam.
Também ensinaram a representarem teatralmente, em torno
das fogueiras, a caçada, a fuga e a vitória.
E assim nasceu a Arte no mundo. Depois ainda os ensinaram
a ter experiências místicas nos sons dos tambores e nas flautas de bambus. E nasceu
os ritos de adoração que chegam até os nossos dias.
E assim nasceu a Arte!
A Arte vai se desenvolvendo com o tempo. Nascem novas
formas do fazer artístico, novos instrumentos, novos espaços como Teatros e
Salas de expressões.
A Arte invade as escolas e a educação prescinde dela como
necessitamos do ar para viver. Sem Arte não há educação da alma.
Daqueles rústicos lampejos estéticos até os dias atuais a
Arte se fez um instrumento tão necessário a vida civilizatória como a
alimentação. O homem necessita da Arte para viver.
A Arte transcende, a Are cura, a Arte exprime os
sentimentos, a Arte eleva o homem, a Arte sensibiliza o embrutecido, a Arte prepara
a mente para o estudo, a Arte cria memórias emocionais positivas, a Arte aciona
gatilhos de harmonização dos sentimentos, a Arte protege das perseguições,
enfim, a Arte aproxima o ser do seu Criador.